11/08/2020

Para os livros, cujo perfume ... Cecília Meireles




Para os livros, cujo perfume
de campo e verniz fascinava
meus olhos e meu pensamento,
não tenho tempo.

Para a flor, o linho, a ramagem,
a cor, que me arrastavam como
por um bosque múrmuro e denso,
não tenho tempo.

Nem para o mar, nem para as nuvens,
nem para a estrela que adorava
não tenho, não tenho, não tenho
não tenho tempo.

Canta o pássaro inútil ritmo,
os homens passam como sombras,
e o mundo é um largo e doido vento.
Não tenho tempo.

Longe, sozinha, arrebatada,
entro no circulo secreto
e a mim mesma não me pertenço.
Não tenho tempo.

Oh, tantas coisas, tantas coisas
que a alma servira com delicia...
(São nebulosas de silencio...)
Não tenho tempo.

Lagrimas detidas – meus olhos.
Sofro, porem já não batalho
entre saudade e esquecimento.
Não tenho tempo.

Aonde me levam? Que destino
governa a delirante vida?
Nem hei de morrer como penso.
Não tenho tempo.

Tão longe esforço, e tão penoso
- e agora fechado o horizonte.
Ó vida, inefável momento,
- não tenho tempo...



Cecília Meireles
In: Poesia Com
pleta


6 comentários:

  1. Esse perfume dos livros é que para sempre os irá distinguir dos suportes digitais.
    Bjs

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  2. Maravilhoso de ler. Gostei mesmo muito.
    .
    Cumprimentos

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  3. Uma linda poesia. Cecília Meireles, uma grande poetisa.
    Um abraço.
    Élys.

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  4. Una poesía muy bella que inspirada en la gran excusa para no leer la de no tener tiempo.

    Saludos.

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  5. Un tiempo necesario es buscar tiempo para leer del mejor libro del mundo ...

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  6. Bom dia de sexta-feira, querida amiga Maria!
    A primeira estrofe me caiu como luva.
    Muito linda toda poesia.
    Agora, temos todo tempo do mundo.
    Tenha um ótimo final de semana abençoado!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery).

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