23/06/2025

O meu Moinho - Poema de Maria de Santa Isabel





Oh meu velho moinho! Que saudade!
Há quanto tempo já não vinha ver-te!
Minha doce lembrança! Vou dizer-te
O grato sentimento que me invade!

Encontro, agora, em ti a minha infância,
Meu eterno passeio de menina,
Num murmúrio de fonte cristalina
Se avisa em tintas leves e distância!

O meu banco de pedra! O rosmaninho,
Que há tanto aqui deixei e se conserva,
Como em cofre de sonho se reserva,
Florindo no passado, o meu caminho!

A tarde vai caindo, mansamente,
Mas eu nem dou por ela, enternecida,
Como quem vê num sonho a própria vida
A projectar-se ao longe, docemente!

Fico esquecida, assim, a recordar,
Matando esta saudade que trazia!
Como tudo é igual na fantasia
E na tranquila paz deste lugar!

Daqui avisto a minha terra, agora,
Como piedoso altar que se levanta,
Erguendo ao Céu essa Rainha Santa,
Que em milagres floriu, consoladora!

Que importa o tempo?... Eu vivo a fantasia!
Que importa a morte?... A vida é que domina!
Se até, na gota de água cristalina,
O mundo se renova, em cada dia…

Ai quem me dera aqui poder ficar,
Neste velho moinho, recordando!
Sem dar que pelo tempo ia passando,
Sem o tempo consigo me levar…


Maria de Santa Isabel Estremoz – Janeiro de 1945




Sem comentários:

Enviar um comentário

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery).

Obrigado pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dispensar um pouco do seu tempo, deixando aqui no meu humilde cantinho, um pouco de si através da sua mensagem.

Topo