07/06/2021

Amar - Poema de Carlos Drummond de Andrade




Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade




15 comentários:

  1. Ó Leonilde is Love :)))
    Bjs, boa semana

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  2. Poesia linda, bem escolhida! beijos, tudo de bom,chica

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  3. Doação ilimitada a uma completa ingratidão,

    Bom dia de nova semana, querida amiga Maria!
    Poema lindo e com um toque de realidade em casa verso.
    Amar a falta de Amor... Profundo.
    Seja feliz e abençoada!
    Beijinhos fraternos de paz e bem

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  4. Lindíssimo de ler. Belo demais.
    .
    Cumprimentos poéticos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  5. Thanks for your sharing, have a great day...

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  6. Drummond de Andrade é um poeta que sempre se lê com gosto. Este poema é maravilhoso.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  7. Olá Maria
    Lindo poema, o amor encanta. Bjs querida.

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  8. Un poema que nos muestra todas formas de amar de una bella forma.

    Saludos.

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  9. Um belo poema de Drummond que adorei reler!... Gosto muito deste autor!
    Beijinhos
    Ana

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