29/02/2016

A Festa do Silêncio - Poema de António Ramos Rosa



Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.


António Ramos Rosa, in "Volante Verde"



5 comentários:

  1. Hello Maria,
    Very wonderful picture with beautiful words.
    The card is really amazing. So nice!!

    Many greetings,
    Marco

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  2. Um poema de linda harmonia em seus versos.
    Um abraço,
    Élys.

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  3. Bem bonito!

    * Obrigado pelo seu comentário, no meu blog.
    Saudaçoes poéticas!

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  4. Lindíssimo!
    Adoro as palavras deste poeta... que tenho vindo a conhecer melhor, graças a grandes partilhas como esta, aqui na blogosfera...
    Bjs
    Ana

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“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery).

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