Hoje vamos divagar por Ourém
O Concelho de Ourém pertencente ao distrito de Santarém e compreende 18 freguesias (Alburitel, Atouguia, Casal dos Bernardos, Caxarias, Cercal, Espite, Fátima, Formigais, Freixianda, Gondemaria, Matas, Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora das Misericórdias, Olival, Ribeira do Fárrio, Rio de Couros, Seiça e Urqueira).
Integrada na zona de transição entre o Ribatejo e o distrito de Leiria, Ourém pertence, em termos turísticos, à região da Rota do Sol, com sede em Leiria. O seu nome original, Abdegas, permaneceu até ao séc XII, quando foi substituído pela forma latina Aurem. Ourém, com o seu burgo medieval rodeado de muralhas, é dominada pelo castelo.
O terramoto de 1755 e as devastações das invasões francesas em 1810, provocaram a decadência do velho burgo medieval, afastando a população para a pequena aldeia da Cruz, situada no sopé do monte e no meio da fértil várzea da Ribeira de Seiça. Esta vila foi elevada em 1841 pela Rainha D. Maria II a sede de concelho com o nome de Vila Nova de Ourém. Em 1991 recebeu o título de cidade juntamente com a antiga Ourém, passando ambas a constituir o coração do concelho. Actualmente o seu nome oficial é Ourém.
A sua riqueza económica reparte-se entre a agricultura, o comércio e a industria transformadora. Ourém tem o ar calmo das cidades do interior com ruas estreitas, casas simples e caiadas, um local onde parece reinar a paz e harmonia.
O concelho integra a freguesia de Fátima, célebre centro religioso para qual convergem milhares de peregrinos todos os anos. A vida desta população rural mudou radicalmente durante o transcurso do século XX, adquire um grande impulso económico devido as famosas aparições de Nossa Senhora na cercania população de Fátima, no decorrer do ano de 1917. Desde esse momento o sector terciário adquire grande importância.
Além de toda esta riquíssima beleza religiosa, Ourém tem outros lugares que merecem uma visita. Começando pelo Centro histórico, este desenvolveu-se em torno do Castelo de Ourém na Freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias.
Freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias
A actual freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias é assim denominada desde 1989, para designar a antiga e importante freguesia de Ourém. Situava-se aqui a velha vila de Ourém, que em 1180 recebeu foral de D. Teresa, filha de D. Afonso Henriques. Possuía uma situação privilegiada, no alto de um morro colossal, completamente isolado no meio da planície.
Igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Misericórdia - Igreja matriz de Ourém (1)
D. Afonso Henriques, depois de ter expulso os mouros de Ourém, fundou neste local um pequeno Templo – a igreja de Santa Maria de Ourém. Em 1445, o 4º conde de Ourém remodelou e ampliou esta igreja e instituiu nela a Real e insigne Colegiada de N.ª Sr.ª das Misericórdias. Esta foi uma das maiores e mais antigas Colegiadas fundadas pela acção eclesiástica da Casa Ducal de Bragança.
O terramoto de 1755 destruiu a primitiva Igreja da Colegiada, tendo apenas ficado ilesa a cripta.
Cripta e Túmulo do 4.º Conde de Ourém (2)
Sob o pavimento da capela-mor está a cripta (capela do Marquês), para a qual se desce por uma escadaria de pedra. Resistiu ao terramoto. No centro, ladeado por colunas que sustentam a abóbada, encontra-se o magnífico mausoléu do Conde D. Afonso (4.º Conde de Ourém), que morrendo em 1460, foi transladado em 1487 para esta arca tumular de autoria de Diogo Pires – O Velho. Sobre a tampa está esculpida a efígie de D. Afonso. O rosto do Conde é o melhor retrato esculpido em Portugal antes do Renascimento. No topo da cabeceira encontra-se o brasão de armas de D. Afonso dos pés, dois guindastes içam uma faixa, na qual está gravado em letra gótica “n e i s”. O túmulo foi violado pelos franceses aquando das invasões, em 1810.
Fonte Gótica (3)
Mesmo ao lado da Colegiada, junto às Portas da Vila, encontra-se a Fonte Gótica. Obra única dentro da arquitectura gótica portuguesa, foi mandada construir por D. Afonso em 1434. De planta quadrangular, é formada por dois arcos em ogiva. Completa o conjunto um chafariz, sobre o qual está esculpido o brasão do IV Conde de Ourém e, por baixo deste, uma inscrição em letra gótica.
Pelourinho (4)
O Pelourinho de Ourém situa-se no Largo do Pelourinho. É um belo exemplar em estilo barroco adornado com motivos vegetais. É um pelourinho de pinha, com fuste marcado a meia altura por três molduras. Tem nele inscrito o escudo das armas oficiais da vila de Ourém, esculpido com a data de 1620.
Torreões (5)
Os torreões foram construídos pelo Conde cerca do ano 1450. Nessa altura, uma passagem coberta unia o Paço a uma torre cilíndrica, de que resta a base, e daí fazia-se a ligação ao castelo.
Castelo de Ourém, à direita o Paço dos Condes com os torreões de entrada.
Paço do Conde (6)
Depois dos dois imponentes torreões, do lado sul, voltado para o castelo, eleva-se o Paço do Conde D. Afonso, 4.º Conde de Ourém. Considerado modelo ímpar no País, este monumento nacional é uma excelente demonstração de poder militar, poder económico e de poder simbólico da época. Este conjunto é composto por uma torre central, com fins residenciais, e pelos dois torreões defensivos, situados a sul.
Antiga passagem secreta entre o Paço dos Condes e o castelo
Castelo de Ourém (7)
O Castelo de Ourém, do século XII , lá bem no cimo do monte, nos tempos conturbados da Idade Média tinha o papel de proteger os campos envolventes, dar segurança às populações, e incentivar a fixação de novos povoadores.
Edificado no século XII por D. Afonso Henriques sobre uma fortificação muçulmana foi ampliado durante o século XV pelos Condes de Ourém. O terramoto de 1755, causou elevados danos, o que viria também a acontecer, em 1810, com as invasões francesas.
É formado por três torres num perímetro triangular, existindo na praça de armas uma cisterna que é alimentada por uma nascente. Classificado como Monumento Nacional, foi restaurado pela Fundação Casa de Bragança. No lado Norte do Castelo situa-se o amplo e panorâmico Terreiro de Santiago, com a estátua de D. Nuno Álvares Pereira. o terceiro Conde de Ourém que daqui terá partido para a célebre Batalha de Aljubarrota.
Existem duas portas de entrada para a vila, a Porta de Santarém e a Porta da Vila.
Mulher Morta
À sombra do castelo de Ourém, onde se juntavam as estradas que vinham de Santarém, Leiria e Porto de Mós, encontra-se um cruzeiro com inscrições em latim e português que marca o ponto de encontro de caminhos e das gentes. Uma calçada que, a partir daqui, serpenteia pela colina acima, conduzia às portas de Santarém, a entrada sul da vila medieval.
CURIOSOSDADES: Lenda Mulher morta
Há uma lenda que narra a origem do nome Mulher Morta. Conta-se que, em tempos idos, uma jovem moça, habitante do lugar, se teria apaixonado por um cavaleiro e o seu amor foi correspondido. Mas o pai não aprovava a relação. Um dia, a filha tentou fugir, para se juntar ao amado. Escapou de casa e pôs-se a correr pela rua fora. O pai, completamente enlouquecido, iniciou uma perseguição atrás dela, com uma enxada na mão. Alcançou-a pouco depois, lançando com violência a enxada sobre a cabeça dela, o que a matou instantaneamente.
As pessoas do lugar ficaram tão impressionadas com a tragédia que decidiram prestar homenagem à desafortunada moça, enterrando-a no mesmo sítio onde a vida lhe havia sido retirada. E ergueram o cruzeiro que hoje ali se encontra.
Nas Festas Populares de Ourém destaca-se a Via-Sacra ao vivo
Na Semana Santa em Ourém o momento alto é a tradicional recriação da Via-Sacra, com um cortejo de figurantes trajados a rigor que atravessa o centro histórico da cidade até ao cimo do castelo, e que ano após ano atrai imensos turistas à cidade.
Foto: net
Saíndo do Centro Histórico de Ourém há ainda muito para conhecer e apreciar, desde as suas lindissimas paisagens, passando por várias das suas freguesias onde o património arqueológico e historico é uma constante. A fertilidade dos campos é usada desde há centenas de anos e a bacia de Ourém contrasta com a serra e o Planalto.
Visitando algumas das suas freguesias e locais de interesse:
Seiça
A freguesia foi criada em 1517 por decreto de Dº João III, tendo obtido um Clérigo para exercer os diferentes actos religiosos.
Há referencias documentais da existência da ermida da santa Maria de Seiça desde 1225. Cresce em redor da Ermida de Santa Maria onde, segundo a tradição, se ajoelhou a rezar D. Nuno Álvares Pereira antes e depois da Batalha de Aljubarrota. Da primitiva ermida nada resta, pois ruiu em 1590.
No seu lugar foi erguida, em 1602, e por iniciativa de Frei Manuel das Chagas, a capela que existe actualmente.
No interior destaca-se o púlpito de pedra, bem como a imagem seiscentista, também de pedra, e ainda uma imagem de Cristo Crucificado, em retábulo, igualmente de pedra, possivelmente de Sec XV.
De salientar ainda nas Ribeiras de Olival e Seiça a existência da raríssima lampreia de riacho, espécie única e extremamente importante na Península Ibérica, cujo habitat se restringe, actualmente, a estas duas ribeiras.
Olival
O povoamento desta freguesia remonta a épocas pré-históricas. De salientar a igreja de Santa Maria do Olival, que parece ter sido fundada em 1210 ou 1211, enquanto a criação da paróquia datará do século XVI. A igreja velha era um templo quatrocentista que sofreu restaurações entre 1888 e 1898. As paredes da capela-mor são forradas de azulejos azuis e brancos dos tipos enxaquetado e padrão, seiscentistas. No altar-mor admira-se uma escultura de madeira representando o orago, peça barroca do século XVIII. Da imaginária destacam-se ainda três esculturas de pedra, possivelmente do século XV, representando Santa Luzia, S. Sebastião e Santíssima Trindade. Além de um cadeirão firmado no couro da espalda com o escudo brasonado dos Machados e de duas estantes de missal bem lavradas, provavelmente do século XVII, a igreja possui duas apreciáveis pinturas seiscentistas, S. Miguel e as Almas do Purgatório, sobre tábua e um ecce homo, sobre tela.
Rica e de grande devoção no concelho é a ermida de Nossa Senhora da Conceição. Templo antigo, edificado no séc. XV, foi reedificado em 1578 pelo cardeal D. Henrique, e modificado no século XVIII.
Alburitel
A sua história é primitiva. O topónimo “Alburitel,” que sugere presença árabe, esse goza do estatuto de ser ímpar no País. É célebre pelas acolhedoras casas comerciais de petiscos ali concentradas, que abrem o apetite a quem passa. Convida por isso a uma breve paragem com direito a um passeio pelas encostas panorâmicas, seguido de uma visita aos templos mais antigos. A sua Capela (Nª. Sª. Da Ajuda) é um belo exemplar do Sec. XVIII.
Matas
A Freguesia de Matas encontra-se a poente do concelho de OUREM. Banhada por várias linhas de água e com posição a poente do concelho, esta freguesia é uma das mais jovens do concelho. Das encostas vinhateiras, passando pelos pinheirais e até pelos extensos campos de milho, integra desde há muito uma verdadeira economia sustentada pelos proventos da terra. Se esta actividade continua hoje a ocupar parte da população, também o sector industrial alcançou alguma preponderância desempenhando, juntamente com a prestação de serviços diversos, um papel de grande relevo na economia desta terra. Do património cultural edificado da freguesia salientam-se os antigos moinhos de águaas, as capelas de Sta. Quitéria de 1777 e de Sta. Ana e a nova igreja, no centro das Matas.
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Formigais
Formigais, freguesia pertencente ao concelho de Ourém, distrito de Santarém, situa-se nos vales do Rio Nabão.
A sua localização, na proximidade de óptimos recursos naturais, terá exercido um papel determinante no povoamento precoce deste território.
Essa ancestralidade é confirmada pelos diversos vestígios arqueológicos que foram encontrados na região, caso da Lapa dos Furos, uma gruta da Idade do Bronze, do Porto Velho, uma “villa” romana, ou mesmo da arte rupestre no Agroal.
Apesar da antiguidade desta terra, somente no século XVI, concretamente no ano de 1550, começam a surgir documentos escritos referindo-se a Formigais.
Nessa altura, Formigais estava integrada no concelho de Tomar. Só mais tarde passou a pertencer ao concelho de Ourém.
Agroal
Neste local, situado na freguesia de Formigais, encontra-se a mais importante nascente do rio Nabão, de caudal abundante. O rio de Agroal tem as águas termais e mineralizadas que dizem curam doenças de pele.
Ribeira do Fárrio
Esta é a freguesia mais jovem do concelho. Criada em 1989 por desanexação da Freixianda, a freguesia da Ribeira do Fárrio fica situada no extremo norte do concelho de Ourém, confinando com o concelho de Pombal.
Terra de excelentes recursos naturais, Ribeira do Fárrio foi, desde cedo, fonte de riqueza para os povos que aqui se fixaram.
Foi precisamente esse factor natural que, em conjugação com agentes económicos e sócio-culturais, conduziu ao florescimento da povoação e possibilitou, no ano de 1989, a sua elevação a freguesia.
Segundo memórias antigas, o nome de Fárrio, provem do latim, Farrius – adjectivo, derivado do substantivo far. A palavra, que significa trigo, abrangia, inicialmente, todo o espaço que hoje se distribui pelos outros lugares.
Fárrio indicava uma região onde se semeava e se produzia o trigo: ager farrius – campo de trigo.
Património Natural e Paisagístico
O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, têm uma área de aproximadamente 35.000 hectares e encontra-se situado no Maciço Calcário Estremenho. Todo o Parque possui uma rica flora e fauna, além de grutas e outras formações geológicas.
Parque Paleontológico de Pedreira do Galinha
O Parque Paleontológico de Pedreira do Galinha situa-se entre Fátima e Torres Novas, junto à localidade de Bairro, formando parte do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. É uma superfície rochosa de uns 60.00 m2, na qual se observam centenas de pegadas de dinossauros datas do Jurássico Médio, época na que se formaram os continentes actuais. São uma das provas mais bem conservadas da existência de alguns dos maiores habitantes terrestres. É considerado como um dos Parques Paleontológico mais importantes e de visita obrigatória para os amantes da Paleontologia e conservação da natureza.
As encostas vinhateiras do Vale da Ribeira de Gondemaria são produtoras daquele que é considerado o melhor vinho da região. É possível prová-lo na Adega Cooperativa de Ourém, na localidade de Casal de Frades.
Restaurantes
A Serra de Aire oferece uma gastronomia rica que enche os olhos e abre o apetite. É indispensável provar os queijos caseiros de Seiça, o carneiro ao Vale Travesso, o Coelho à Bruxa, o Ensopado de Borrego de Vilar de Prazeres e os Bolos de Arco de Ourém. Não deixe de experimentar os vinhos brancos de Alburitel. Integrado na Associação de Vinhos Históricos de Portugal – com sede em Ourém. O vinho Medieval de Ourém tem a sua origem na fundação de Portugal, quando D. Afonso Henriques celebrou com os Monges de Cister, também conhecidos pelos monges agricultores.
Fontes: http://www.cm-ourem.pt/; http://museu.cm-ourem.pt/; http://www.regiaocentro.net/; http://www.ribatejo.com/; http://www.rt-leiriafatima.pt/ ; http://www.distritosdeportugal.com/; http://pt.wikipedia.org/;
Fotografias: Pessoais; http://olhares.aeiou.pt/; Várias net
Este artigo é especialmente dedicado à minha amiga Joana, que sendo de Ourém e tendo muito orgulho na sua terra, me pediu para falar um pouquinho aqui no meu humilde espaço deste local lindíssimo. Joaninha espero que tenha conseguido realçar toda a beleza da tua terra que é simplesmente encantadora e que merece sem sombra de dúvida, uma visita.
Sempre que viajamos seja física ou virtualmente (através por exemplo da leitura), alargamos os nossos horizontes, pois vamos conhecer novos locais, novos costumes, novas realidades e gentes. Aumentamos o nosso conhecimento e enriquecemos interiormente.