27/04/2017

Lembrança - Poema de Guilherme de Almeida




Lembro o pudor da paisagem
e a fanfarra de perfumes
que o claro clarim dos lírios
abria nas madrugadas.

Lembro o susto dos insetos
na castidade das águas,
e as asas do pó fugindo
atrás da luz desnudada.

Lembro a fala dos caminhos
ao longo dos passos cegos,
e os ventos enovelados
na cabeleira das nuvens.

Lembro o bulício da palha
quando pisavas a tarde,
os olhos cheios de folhas
e as mãos repletas de ninhos.

Lembro a noite dos meus olhos
sem luas no seu silêncio,
quando ficavas na sombra
e a sombra ficava estrela.

Lembro a palavra parada
na flor adiada da boca,
e lembro o beijo retido
ao gesto alado de adeuses.


Guilherme de Almeida



5 comentários:

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery).

Obrigado pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dispensar um pouco do seu tempo, deixando aqui no meu humilde cantinho, um pouco de si através da sua mensagem.

Topo