Dei a volta ao continente
Sem sair deste lugar
Interroguei toda a gente
Como o cego ou o demente
Cuja sina é perguntar
Ninguém me soube dizer
Onde estavas e vivias
(Já cansados de esquecer
Só vivos para morrer
Perdiam a conta aos dias)
Puxei da minha viola
Na soleira me sentei
Com a gamela da esmola
Com pão duro na sacola
Desiludido cantei
Talvez dissesse romanças
Ou cantigas de encantar
Aprendidas nas andanças
Das poucas aventuranças
De quem não soube esperar
Andavam longe os teus passos
Nem as cantigas ouviste
Vivias presa nos laços
Que faziam outros braços
No teu corpo que despiste
Quanto tempo ali fiquei
Sangrando os dedos nas cordas
Quantos arrancos soltei
Nesta fome que criei
Nem eu sei nem tu recordas
Porque nunca tos contei
Até que um dia cansaste
(Era pó não era monte)
Outra lembrança deixaste
E nas águas desta fonte
A tua sede mataste
— O arco da minha ponte
José Saramago
Um belo poema. Sabe que só depois da morte de Saramago soube que ele tinha escrito um livro de poemas?
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Muito bem escolhido! Lindo! beijos,ótima semana!chica
ResponderEliminarBom dia Querida amiga Maria que poema mais lindo suave e terno é uma canção de amor linda semana para voce amiga um abraço com carinho marlene
ResponderEliminarParabéns por tão bela postagem.
ResponderEliminarUm lindo poema, uma bela escolha.
ResponderEliminarBeijinhos e boa semana Maria