03/06/2023

Tejo que levas as águas - Poema de Manuel da Fonseca




Tejo que levas as águas
Correndo de par em par
Lava a cidade de mágoas
Leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes espantos
De roubos fomes terror
Lava a cidade de quantos
Do ódio fingem amor

Lava bancos e empresas
Dos comedores de dinheiro
Que dos salários de tristeza
Arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas
Casebres bairros da lata
Leva negócios e rendas
Que a uns farta e a outros mata

Leva nas águas as grades
De aço e silêncio forjadas
Deixa soltar-se a verdade
Das bocas amordaçadas

Lava avenidas de vícios
Vielas de amores venais
Lava albergues e hospícios
Cadeias e hospitais

Afoga empenhos favores
Vãs glórias, ocas palmas
Leva o poder dos senhores
Que compram corpos e almas

Das camas de amor comprado
Desata abraços de lodo
Rostos corpos destroçados
Lava-os com sal e iodo

Tejo que levas as águas
Correndo de par em par
Lava a cidade de mágoas
Leva as mágoas para o mar.


Manuel da Fonseca,
Poemas para Adriano, 1972



15 comentários:

  1. Precioso poema. Te mando un beso.

    ResponderEliminar
  2. Bela escolha poética para ilustrar o olhar azul!!! Bom sábado Maria

    ResponderEliminar
  3. Magnifico Poema de Manuel da Fonseca e que aqui bem partilhas. A Poesia é arte e vida.
    Obrigado, Maria.



    Beijo
    SOL da Esteva

    ResponderEliminar
  4. Poema encantador, muito bem apresentado por ti!
    Lindo fds! beijos, chica

    ResponderEliminar
  5. Una bella poesía dedicada al tajo.

    Saludos.

    ResponderEliminar
  6. Poema encantador que me fascinou ler
    *
    Sábado com Saúde, Paz e Amor.
    */*

    ResponderEliminar
  7. Lava a cidade de mágoas
    Leva as mágoas para o mar.

    Olá, querida amiga Maria!
    Amei os versos recortados acima, perfeitos...
    O mar leva o mal e nos devolve o bem.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Beijinhos com carinho

    ResponderEliminar
  8. Precioso poema, con una buena fuente de inspiración.
    Un abrazo

    ResponderEliminar
  9. É um excelente poema e uma canção inesquecível.
    Abraço, saúde e bom domingo

    ResponderEliminar
  10. Precioso poema dedicado a nuestro río Tajo. Besos.

    ResponderEliminar
  11. Un poema social muy profundo ...hoy por hoy cuanto no se necesita la lluvia para lavar tanto dolor y tanto abuso...que fuera así de fácil que llueva y todo lo malo desaparezca ...pero no es así...a veces el agua arrasa todo , muchos se quedan sin nada y más de las veces son los más necesitados , los abusados los que sufren todo esa bataola de tempesatad...pero en el poema se espera que al fin la lluvia nos libere de todo lo que daña...
    Un abrazo.

    ResponderEliminar

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery).

Obrigado pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dispensar um pouco do seu tempo, deixando aqui no meu humilde cantinho, um pouco de si através da sua mensagem.

Topo