27/10/2011

Eternidade - Poema de Pedro Homem de Mello




A minha eternidade neste mundo
Sejam vinte anos só, depois da morte!
O vento, eles passados, que, enfim, corte
A flor que no jardim plantei tão fundo.

As minhas cartas leia-as quem quiser!
Torne-se público o meu pensamento!
E a terra a que chamei — minha mulher —
A outros dê seu lábio sumarento!

A outros abra as fontes do prazer
E teça o leito em pétalas e lume!
A outros dê seus frutos a comer
E em cada noite a outros dê perfume!

O globo tem dois pólos: Ontem e hoje.
Dizemos só: — Meu pai! ou só:— Meu filho!
O resto é baile que não deixa trilho.
Rosto sem carne; fixidez que foge.

Venham beijar-me a campa os que me beijam
Agora, frágeis, frívolos e humanos!
Os que me virem, morto, ainda me vejam
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos!

Nuvem subindo, anis que se evapora...
Assim um dia passe a minha vida!
Mas, antes, que uma lágrima sentida
Traga a certeza de que alguém me chora!

Adro! Cabanas! Meu cantar do Norte!
(Negasse eu tudo acreditava em Deus!)
Não peço mais: — Depois da minha morte
Haja vinte anos que ainda sejam meus!

Pedro Homem de Mello, in "Bodas Vermelhas"

3 comentários:

  1. Minha querida

    Adorei este poema, é um dos mais belos de Pedro Homem de Mello...a imagem está fabulosa.

    Deixo um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  2. Maria minha querida
    A imagem está divina. Gosto imenso deste poema de Pedro Homen de Mello é triste mas mostra a fragilidade do homem.
    Beijinho e uma flor

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  3. Pedro Homem de Mello um poeta tão esquecido!

    Pessoalmente gosto muito.

    Beijo

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