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15/10/2017

Cisne Branco - Poema de António Feijó





Cisne Branco


Cisne branco, esquecido a sonhar no alto Norte,
Vendo-se, ao despertar, das neves prisioneiro,
Ergue os olhos ao céu enublados de morte,
Mas o sol já não vem romper-lhe o cativeiro.

O gelo, no lençol todo imóvel das ondas,
Em que a aurora boreal põe reflexos de brasas,
Deslumbra-lhe um momento as pupilas redondas,
Dá-lhe a ilusão do sol, mas não lhe solta as asas.

Vê que o torpor do frio o invade lentamente;
Debate-se, procura o cárcere romper;
Mas a asa é de arminho, o gelo é resistente:
Tem as penas em sangue e sente-se morrer.

Então, põe-se a cantar sem que ninguém o escute;
Solta gritos de dor.em que lhe foge a vida;
Mas essa dor, se ao longe um eco a repercute,
Parece uma canção no silêncio perdida ...

Melodia que a voz da Saudade acompanha,
Amarga e triste como o exílio onde agoniza,
Longe do claro sol que outras paisagens banha,
Dos rios e do mar que outra alvorada irisa.
Voz convulsa a chorar perdidas maravilhas:
Tardes ocidentais de sanguínea e laranja,
Noites de claro céu, como um mar cheio de ilhas,
Manhãs de seda azul que o sol tece e desfranja!

Mas ao longe, à distância onde a leva a Saudade,
Tão esbatida vai essa triste canção,
Que não desperta já comoção nem piedade:
Encanta o ouvido, mas não chega ao coração.

E o Cisne, abandonado ao seu destino, expira
Alucinado e só, sob o silêncio agreste,
Pensando que no azul, como um mar de safira,
Os astros a luzir são a geada celeste ...


António Feijó

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