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21/01/2017

O chamado das pedras - Poema da Cora Coralina





A estrada está deserta.
Vou caminhando sozinha.
Ninguém me espera no caminho.
Ninguém acende a luz.
A velha candeia de azeite
de lá muito se apagou.

Tudo deserto.
A longa caminhada.
A longa noite escura.
Ninguém me estende a mão.
E as mãos atiram pedras.
Sozinha...
Errada a estrada.
No frio, no escuro, no abandono.
Tateio em volta e procuro a luz.
Meus olhos estão fechados.
Meus olhos estão cegos.
Vêm do passado.

Num bramido de dor.
Num espasmo de agonia
Ouço um vagido de criança.
É meu filho que acaba de nascer.

Sozinha...
Na estrada deserta,
Sempre a procurar
o perdido tempo que ficou pra trás.

Do perdido tempo.
Do passado tempo
escuto a voz das pedras:

Volta...Volta...Volta...
E os morros abriam para mim
Imensos braços vegetais.

E os sinos das igrejas
Que ouvia na distância
Diziam: Vem... Vem... Vem...

E as rolinhas fogo-pagou
Das velhas cumeeiras:
Porque não voltou...
Porque não voltou...
E a água do rio que corria
Chamava...chamava...

Vestida de cabelos brancos
Voltei sozinha à velha casa deserta.

Cora Coralina

7 comentários:

  1. Siempre encuentras un poema que nos hace emocionar, Maria.
    Un abrazo y buen fin de semana.

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  2. Que bonito! Adorei. Parabéns pela escolha.

    Beijo. Bom fim de semana.

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  3. Uma genuína voz poética...!
    Bela postagem, Maria.

    Abraço

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  4. Um belo chamado poético!
    Bom domingo Maria!!!

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  5. Um chamado maravilhoso. Adoro os escritos da Cora Coralina.
    Uma linda imagem!
    Beijos e ótima semana Maria.

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  6. Lindo! Parabéns pela escolha, beijos

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  7. Uma verdadeira delícia descobrir mais um fascinante trabalho de Cora, que muito aprecio...
    Maravilhosa escolha!
    Beijinhos!
    Ana

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“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery).

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