Eis a casa
menos que ar
imponderável,
no entanto é branca de
camélia
e tem perfume de cal
Com seus corredores
O alpendre
As janelas uma a uma
Vê-se o mar. As montanhas. O
trem passando
O gasómetro
Vêm-se as árvores por cima
com suas flores
A casa imponderável
Mas de cimento madeira
tijolos ferro vidro
A pintura prateada das
grades cheira a óleo a fruta a luz
A água a pingar cheira a
musgo,
soa metálica, trémula
insetos pássaros líquidos
pequenas estrelas
clarins muito longe
Peitoris gastos de braços
antigos
Sombras de borboletas
Eu sei quem comprou a terra
quem pensou nos desenhos
quem carregou as telhas
Passam legiões de formigas
pelos patamares
Eu sei de quem era a casa
quem morou na casa
quem morreu
Eu sei quem não pôde viver
na casa
É uma casa
com seus andares
suas escadas
seus corredores
varandas
aposentos
alvenaria
muros
imponderável.
Uma casa qualquer.
Cruz que se carrega.
Imponderavelmente, para
sempre, às costas.
Um excelente poema, como todos que Cecília Meireles escreveu.
ResponderEliminarUma das minhas poetizas preferidas, a par da Sophia de Mello Breyner
Um abraço e bom fim de semana
Bom dia
ResponderEliminarMaravilhosa escolha. Poema lindíssimo!
Beijo, bom sábado!
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Maria
ResponderEliminarLindíssimo, congruente e bem ritmado poema de Cicilia Meireles. Na verdade, uma casa cuja situação tenha todos os atributos mencionados, só sendo "casa às costas".
Beijinhos
Ai que coisa mais linda de se ler...e que imagem...poxa, me encantei lendo e relendo! Maria, eu adoro Cecília Meireles e te agradeço e parabenizo pela magnífica publicação!!! um abraço com desejos de um domingo muito lindinho prá ti!!!
ResponderEliminarMuito bonito.
ResponderEliminarum beijinho e um bom Domingo
Gábi
Sempre maravilhoso, descobrir mais um pouco de Cecília Meireles...
ResponderEliminarBeleza e delicadeza... sempre num estilo de escrita, inconfundível...
Beijinhos
Ana